quinta-feira, 2 de junho de 2011

SUGESTÕES DE TEXTOS

Olá pessoal!

A turma do 4º ano se interessou muito pelo livro "Contos de morte morrida" de Ernani Ssó. É uma abordagem sobre o tema "morte" de maneira divertida e que atrai a atenção das crianças (e dos adultos). Pesquisando aqui na net, encontrei 3 textos deste livro no blog "tudehistoria.blogspot.com". Divirtam-se...

A Morte e o Ferreiro

Há muito tempo, quando os bichos falavam e o sol tinha fases como a Lua, dois reinos vizinhos entraram em guerra. Foram tantas as batalhas que a Morte quase se cansou de trabalhar. Levava gente da manhã à noite, mesmo aos domingos. Quando tudo terminou, sete anos depois, a gadanha dela tinha perdido o fio e quebrado a ponta.
Então a Morte procurou um ferreiro, numa pequena aldeia, perto do último campo de batalha. Ele era um homem valente, não se assustou ao ver a Morte parada na porta.
-Já chegou a minha hora?
-Não. Preciso dos seus serviços.
A Morte mostrou a gadanha.
-Precisa de uma lâmina nova-o ferreiro disse. -Vai demorar um pouco. Melhor a senhora se sentar.
-Eu nunca sento - a Morte respondeu.
Entregou a gadanha e ficou num canto, confundida com as sombras.
O ferreiro segurou a gadanha, sentiu o peso dela e disse:
-Parece uma gadanha comum.
-É uma gadanha comum, na mão dos outros - a Morte disse.
O ferreiro trabalhou a noite toda. Pela madrugada, a gadanha tinha uma lâmina nova. Chegava a brilhar de tão afiada e pontuda.
A Morte saiu das sombras, pegou a gadanha, examinou-a.
-Ficou muito boa, ferreiro. Quanto lhe devo?
-Nada
-Então, obrigada. Até outro dia.
-Espere aí. Quero um favor em troca.
A Morte esperou.
-Quero que a senhora me avise com antecedência. Para eu me preparar pra minha hora.
-Avisarei - ela disse sem nem virar, e sumiu na rua.
Anos e anos se passaram. O ferreiro nunca mais teve notícia da Morte.
Na verdade até esqueceu dela.
Uma noite, voltando pra casa, viu um brilho branco nas sombras. Eram os dentes da Morte sob o capuz preto. O ferreiro disse:
-Tudo bem? Veio me avisar?
-Não. Vim buscá-lo.
-Mas como?! A senhora prometeu que ia me avisar com antecedência.
-Eu avisei.
-Não recebi aviso nenhum.
-Seus cabelos ficaram brancos?
-Ficaram.
-Seu rosto se encheu de rugas?
-Sim.
-Suas pernas ficaram fracas?
-Ficaram. Estou até usando bengala.
-Suas costas encurvaram?
-Encurvaram.
-Então, ferreiro? Quantos avisos mais você queria?
-Mas velho assim eu posso morrer com oitenta anos, com cem ou cento e vinte. Um aviso desses não me serve.
Quero hora com lugar certos.
-Está bem. Dentro de sete dias, aqui no jardim - a Morte disse e sumiu.
O ferreiro ficou quieto, pensando. Sete dias não era muito. Precisava se apressar.
Mas o ferreiro não se apressou. Nesses sete dias, fez o que sempre fazia, do jeito que sempre fazia. Apenas passou mais tempo com os netos, contando histórias.
Quando o prazo se encerrou, ele estava no jardim, à espera da Morte.
Ele não disse nada. Ela também não disse nada.
Foram andando juntos como velhos amigos.

A morte e os gêmeos

Há muito tempo, quando os bichos falavam e o sol e a Lua nasciam juntos, um casal teve gêmeos. Pedro e Paulo, exatamente à meia-noite. Uma velha adivinha, conhecida da família, disse que Pedro morreria aos vinte anos. Então os pais resolveram confundir a Morte: passaram chamar Pedro de Paulo Pedro e Paulo, Pedro Paulo.
Quando os gêmeos completaram vinte anos, Paulo Pedro se escondeu num armário, desde manhã cedinho. Disse para mulher:
-Se me procurarem, diga que fui viajar.
A Morte foi até a casa dele antes da meia-noite – como sempre, vestida de preto, a caveira escondida pelo capuz e a gadanha na mão direita. Quando a mulher de Paulo Pedro atendeu a porta, a Morte disse:
-Não se assuste. Não é com a senhora. É com seu marido.
-Meu marido está viajando.
-Ele devia estar aqui.
-Mas está viajando.
-Ele não se chama Pedro?
-Não, se chama Paulo.
A morte pensou um pouco e se foi para casa de Pedro Paulo. Havia uma grande festa lá – muita bebida, muita dança. A Morte foi direto falar com o aniversariante.
-Você é o Pedro?
-Sim, sou o Pedro.
-Então venha comigo – a Morte disse.
-O quê?!
-Vamos.
-Quem é você?
A Morte não disse nada. Só olhou para Pedro Paulo. Então ele viu que não era alguém fantasiado para a festa.
-Mas já?!
-Você sabe, pra morrer basta estar vivo.
-Não é justo! Eu mal fiz vinte anos!
-Isso mesmo. Minha missão, hoje, é levar um sujeito que se chama Pedro, com vinte anos.
-Mas eu também me chamo Paulo.
-Como?
-Eu me chamo Pedro Paulo.
-A Morte ficou na dúvida. Resolveu então voltar a casa de Paulo Pedro.
Não encontrou ninguém.
-Estão querendo me fazer de boba - a Morte pensou.
Voltou à festa. Lá estavam os dois irmãos, muito alegres. Pensavam que a Morte tinha desistido.
A Morte olhou para eles. Mesma cara, mesmo cabelos, mesmas roupas.
Ela se aproximou.
-Quem é Pedro?
-Eu – os dois disseram – Pedro Paulo e Paulo Pedro.
A Morte não costumava se enganar. Nem pensava no assunto. Simplesmente sabia quem tinha que levar. Mas agora estava confusa.
Pedro Paulo se animou:
-Você não sabe qual de nós tem de levar. É melhor não levar ninguém, para não cometer uma injustiça.
-Vou levar os dois – a Morte disse calmamente. –Assim terei a certeza de que não deixei o irmão certo.
-Mas como?! E o errado?!
-Acidente de trabalho.
-Você não pode fazer isso.
-Posso, sim. Vocês nasceram juntos, morrem juntos.
-Não nascemos juntos.
-Não?
-Eu sou dois minutos mais velho que ele – Paulo Pedro disse orgulhoso.
-Então é você o Pedro que eu quero – a Morte disse.
-Como?!
-Ouça.
O relógio da igreja bateu meia-noite.
-Está na hora e seu irmão ainda tem dezenove anos.
E o tocou com a gadanha antes que ele tivesse tempo de se arrepender de ter falado.

Moral da história: "Quem fala demais da bom dia a cavalo."


A Morte e o escritor

Há muito tempo, faz duas horas, quando os bichos falavam, um escritor começou um livro difícil. Primeiro, porque era sobre um assunto de que ele não sabia patavina. Depois porque, ao se sentar em frente da escrivaninha, viu a sombra de alguém encapuzado, segurando uma gadanha, se estender sobre o monitor do micro e a parede.
- Continue - uma voz disse atrás dele. - Você ainda tem um tempinho.
Mesmo tremendo, o escritor começou a primeira história. Escreveu uns quatro, cinco parágrafos, daí parou.
- Não vai continuar?
- Só amanhã.
- Mas preciso levar você.
- Então não vai saber o final da história.
Depois de um silêncio, a voz continuou:
- Vamos fazer um trato. Eu levo você só depois que terminar a história.
- Mas eu queria escrever várias.
- Todas a meu respeito?
- Todas.
- Vou pensar. Se eu ficar curiosa, quero ver as outras.
- Posso pedir um favor? Não sei escrever com alguém lendo por cima do meu ombro.
- Você está querendo demais.
Então o escritor teve de trabalhar com a Morte lendo por cima do ombro dele. Nunca teve coragem de se virar para olhar para ela. No máximo espiava a sombra na parede.
Ele não pediu nenhuma dica para os enredos, mesmo estando louco de vontade. Ela nunca reclamou das palavras que ele botou em sua boca, nem das cenas que a fez, digamos, viver. Daí que ele não tem a menor ideia do que ela achou do livro.
No último dia, ao começar a escrever a apresentação, ele puxou conversa:
- Suas histórias não são muitas.
- Não?
- Pelo menos eu não encontrei. Histórias de verdade, com começo, meio e fim, são muito poucas. O resto são episódios soltos.
- É. Mas tem uma coisa. Que você arrume começo, meio e fim para episódios soltos, eu entendo. Mas porque alterou histórias inteiras, algumas famosas, escritas por grandes escritores?
- Não é ótimo? Agora temos duas histórias, em vez de uma.
- Mas essa liberdade, se são narrativas do folclore...
- É aquele negócio, quem conta aumenta um ponto, ou diminui. sempre foi assim. Os escritores pegam as versões orais e as modificam, conforme suas intenções, seu talento ou falta dele. Aí elas caem de novo na boca do povo. Mas, de um livro pra outro, às vezes ficam irreconhecíveis.
- Mas tem uma história que, apesar do capuz e da gadanha medievais, não me lembro de ter visto antes.
- Nem vai lembrar.
- Quer dizer...
- Inventei todinha. Por favor, não diga pra ninguém. Quem descobrir qual história é bom descobridor será.
A Morte respondeu a pergunta:
- Como descobriu que eu nunca me sento?
- Não descobri. Adivinhei.
- Bem - a morte disse depois de um silêncio -, terminando a apresentação, podemos ir.
- Queria dizer mais uma coisa. Não sei se você notou, mas, ao contrário de muitos outros contadores de história, não pintei você como malvada, feito vilã de novela de televisão, nem botei você dando gargalhadas estrondosas como cientistas malucos. Achei que você ficava melhor na foto de um modo mais neutro, mais profissional, digamos. Com uma certa dignidade. Dignidade, não solenidade, que pra solenidade não estou nem aí.
A Morte não disse nada. A sombra dela, na parede, estava imóvel, perfeitamente imóvel. Então o escritor se virou e a encarou:
- Está na hora?
- Está.
- Imagino que você não vai me dizer pra onde vamos nem o que há por lá.
- Não adiantaria de nada, meu caro. Ninguém está preparado pra isso.
- Só mais uma coisa. Meu epitáfio. Não quero nada choroso, nem metido a poético. Quero aquele velho epitáfio da piada.
- Qual?
- "Aqui jaz Ernani Ssó, contra a vontade".

13 comentários:

  1. Eu gostei muito da hitórias de contos de mortes morridas.


    Iris

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  2. Eu Tayla e Beatriz gostanmos de histórias de terror e de outras histórias, então adorei o blog da nossa escola.

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  3. O texto estava ótimo,legal, e maravilhoso.
    Espero que gostem também e achem o mesmo.
    obrigada.

    Milena.

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  4. Eu Livia gosto muito de histórias de terror,

    principalmente de contos de MORTE MORRIDA.

    OBRIGADA
    LIVIA

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  5. Eu gostei dos textos. O texto da morte que mais gostei é A MORTE E O GêMEOS.

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  6. Eu e o meu colega gostamos mais da morte e os gêmeos porque os pais do gêmeos queriam enganar a morte.

    Leandro e Welington

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  7. Eu gostei muito dessas histórias porque eu amo ler. De vez em quando,eu me assusto. Eu adoro esse blog da minha escola. THAU

    ASS: CAROLINA CASSIANO LOPES












    L E BEIJOS.




    ASS CAROLINA

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  8. Eu gostei das histórias porque são muito legais.


    Ana Cristina

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  9. Eu e meu amigo gostamos da historia A morte e os gêmeos
    Alunos da Cleusa
    Gustavo gui

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  10. Gostei de todas as histórias de contos de mortes morridas, porque são um pouco assustadoras...

    Jaine Fagundes Olidio

    Gostei muito dessas histórias.
    professora:Cleusa

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  11. Gosto muito dos contos de morte morrida.
    A professora elcimar sempre contava pra gente.
    Ass.Beatriz

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  12. nossa tia Cacilda é legal mesmo

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  13. Oi, eu goste dos contos. Você tem os demais?
    Podría facilitarmelos al correo stward.porras@gmail.com ¡Muchas gracias!

    Eu não falo muito bem português, mas quero aprender sua língua, cultura, literatura e tradições.

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