terça-feira, 28 de junho de 2011

FESTAS JUNINAS



Você sabe a origem da festa junina?
Apesar de hoje serem festas católicas, as comemorações juninas antecedem o nascimento de Cristo. Em certa época e durante muito tempo os católicos passaram a associar esta celebração ao aniversário de São João, no dia 24 de junho. Mais tarde, os festejos incluíram os dias de Santo Antônio (dia 13) e São Pedro (dia 29).
Ao longo dos anos, cada região do Brasil comemora de um jeito diferente. O que importa é o ingrediente principal: a alegria.
Hoje, as festas juninas são entendidas como uma oportunidade para juntar os amigos e a família e se divertir!
A decoração é feita com bandeirinhas coloridas, confeccionadas com folhas de papel de seda ou cartolina de diversas cores ou, até mais originais, são as bandeirinhas de jornal ou folhas de revistas coloridas.
Quando há espaço usam papel laminado nas cores vermelha e amarela para simular uma fogueira, amassando o papel de forma a imitar as labaredas. As folhas amarelas ficam na parte de dentro, para imitar a chama mais forte do fogo. Junta-se uns gravetos de madeira para colocar em volta e montar a fogueira.
Para entrar no clima da festança os participantes da festa se vestem a caráter. Os homens costumam usar camisa xadrez, calça jeans com retalhos coloridos como se fossem remendos das calças, lenço no pescoço, chapéu de palha, bota e um bigode caprichado desenhado com lápis de pintar os olhos.
Já as mulheres usam vestidos de estampas florais com babados e rendas, cabelo dividido em duas tranças e amarrado com fita, chapéu de palha, meia calça colorida, sapato, batom de cor viva e sardas desenhadas na bochecha com lápis de pintar os olhos. A música típica das festas juninas é um pouco parecida ao forró, e toca todo tempo, embalando o bate papo dos amigos. São tocadas quase sempre as mesmas, como Pula a Fogueira, Cai Cai Balão, Capelinha de Melão, Pedro, Antonio e João etc.
Há ainda várias brincadeiras como a quadrilha, em que geralmente é tocada a música Festa na Roça. A maior atração está na confusão, quanto maior mais divertida se torna a brincadeira.
Outras brincadeiras comuns são a pescaria, corrida de saco, o ovo cozido na colher, pular a fogueira de mentirinha do papel laminado, a corrida dos três pés, para as crianças. Para os mais jovens, o correio elegante, e até um bingo, que é apreciado até pelas pessoas mais idosas.
As comidas normalmente são o Arroz-doce, canjica, cocadinhas, bolo de fubá, docinhos de amendoim, cuscuz, milho cozido, pinhão, bolinhos de polvilho, suspirinhos, etc.
As bebidas mais famosas destas festas são Quentão e Vinho Quente, apreciados por homens e mulheres.

Conheça um pouquinho mais...

Os santos juninos:

SANTO ANTÔNIO 
Festejado em 13 de junho

Nasceu em Lisboa, em agosto de 1195, batizado com o nome Fernando de Bulhões. Aos 15 anos entrou para um convento agostiniano e em 1220 trocou o nome para Antônio, ingressando na Ordem Franciscana. Lecionou teologia em várias universidades europeias e morreu em 13 de junho de 1231, a caminho de Pádua, na Itália. Padroeiro dos pobres e considerado o santo casamenteiro, também é invocado por pessoas que queiram encontrar objetos desaparecidos.


SÃO JOÃO 
Festejado em 24 de junho

Filho de Zacarias e Isabel, diz a Bíblia que foi ele quem batizou Jesus Cristo com as águas do rio Jordão. Daí vem o nome Batista, o "batizador". É o mais famoso dos três santos do mês de junho, tanto que as festas juninas também são conhecidas como festas joaninas, em sua homenagem. A história bíblica descreve Isabel, sua mãe, como prima de Maria, a mãe de Jesus. É usualmente representado pela figura de um menino com um cordeiro no colo, já que teria sido ele quem anunciou aos homens a chegada do cordeiro de Deus.
Assim, quando se aproxima o dia do seu aniversário, é logo anunciado com o Acorda Povo - tradicional procissão, com danças e cânticos, às vezes profanos, que conduz a bandeira do santo, ao som de zabumbas e ganzás. Seu início é quase sempre a partir de zero hora e vai até o raiar do dia.
 
SÃO PEDRO  
Festejado em 29 de junho

Nascido com o nome de Simão, foi chamado de Cefas (pedra, em aramaico) por Jesus, em função de sua firme liderança. Daí a origem do nome Pedro. Era pescador, tal como os apóstolos Tiago e João, e foi apresentado a Cristo por seu irmão, o apóstolo André. É considerado o primeiro papa da Igreja Católica, guardião das chaves do céu e responsável pelas chuvas. Foi executado por ordem do imperador Nero, entre os anos 64 e 67 da era cristã.

Comidas típicas de festa junina

Toda Festa Junina deve contar com os pratos típicos, pois eles fazem parte da tradição desta importante festa da cultura popular brasileira. São doces, salgados e bebidas que estão relacionados, principalmente, à cultura do campo e da região interior do Brasil. Podemos destacar que muitos cereais (milho, arroz, amendoim) estão na base de grande parte das receitas destas comidas. O coco também aparece em grande parte das receitas, principalmente dos doces.

As principais bebidas e comidas de Festa Junina:
  • Arroz Doce
  • Bolo de Milho Verde
  • Baba de moça
  • Biscoito de Polvilho
  • Pipoca
  • Curau
  • Pamonha
  • Canjica
  • Milho Cozido
  • Suco de milho verde
  • Quentão (bebida feita com gengibre, pinga e canela)
  • Batata Doce Assada
  • Bolo de Fubá
  • Bom-bocado
  • Broa de Fubá
  • Cocada
  • Cajuzinho
  • Doce de Abóbora
  • Doce de batata-doce
  • Maria-mole
  • Pastel Junino
  • Pé de moleque
  • Pinhão
  • Cuzcuz
  • Quebra Queixo
  • Quindim
  • Rosquinhas de São João
  • Vinho Quente
  • Suspiro 

Músicas Juninas:
CAPELINHA DE MELÃO
Autor: João de Barros e Adalberto Ribeiro

Capelinha de melão
é de São João.
É de cravo, é de rosa, é de manjericão.

São João está dormindo,
não me ouve não.
Acordai, acordai, acordai, João.

Atirei rosas pelo caminho.
A ventania veio e levou.
Tu me fizeste com seus espinhos uma coroa de flor.

PEDRO, ANTÔNIO E JOÃO
Autor: Benedito Lacerda e Oswaldo Santiago

Com a filha de João
Antônio ia se casar,
mas Pedro fugiu com a noiva
na hora de ir pro altar.

A fogueira está queimando,
o balão está subindo,
Antônio estava chorando
e Pedro estava fugindo.

E no fim dessa história,
ao apagar-se a fogueira,
João consolava Antônio,
que caiu na bebedeira.


BALÃOZINHO


Venha cá, meu balãozinho.
Diga aonde você vai.
Vou subindo, vou pra longe, vou pra casa dos meus pais.

Ah, ah, ah, mas que bobagem.
Nunca vi balão ter pai.
Fique quieto neste canto, e daí você não sai.

Toda mata pega fogo.
Passarinhos vão morrer.
Se cair em nossas matas, o que pode acontecer.
Já estou arrependido.
Quanto mal faz um balão.
Ficarei bem quietinho, amarrado num cordão.
 
SONHO DE PAPEL
Autor: Carlos Braga e Alberto Ribeiro

O balão vai subindo, vem caindo a garoa.
O céu é tão lindo e a noite é tão boa.
São João, São João!
Acende a fogueira no meu coração.

Sonho de papel a girar na escuridão
soltei em seu louvor no sonho multicor.
Oh! Meu São João.

Meu balão azul foi subindo devagar
O vento que soprou meu sonho carregou.
Nem vai mais voltar.
 
PULA A FOGUEIRA
Autor: João B. Filho

Pula a fogueira Iaiá,
pula a fogueira Ioiô.
Cuidado para não se queimar.
Olha que a fogueira já queimou o meu amor.

Nesta noite de festança
todos caem na dança
alegrando o coração.
Foguetes, cantos e troca na cidade e na roça
em louvor a São João.

Nesta noite de folguedo
todos brincam sem medo
a soltar seu pistolão.
Morena flor do sertão, quero saber se tu és
dona do meu coração.
 
CAI, CAI, BALÃO
Cai, cai, balão.
Cai, cai, balão.
Aqui na minha mão.
Não vou lá, não vou lá, não vou lá.
Tenho medo de apanhar.
  

Brincadeiras:
Uma boa festa Junina não dispensa os tradicionais correio elegante, dança da laranja, quadrilha, corrida de sacos ... Para animar sua festa, leia as dicas de brincadeiras para que a sua festa se torne a mais inesquecível de todos os tempos. Escolha a sua brincadeira e bom divertimento !
Boliche: Os pinos são feitos com latas vazias de refrigerante ou de batatas fritas, encapadas com papel colorido. Faz-se uma linha de arremesso a cerca de 2 metros de distância. A bola deve arrastar no chão até atingir os pinos. Cada participante pode fazer três tentativas. O coordenador anota o número de pinos derrubados em cada tentativa. Vence quem derrubar mais pinos.
Caça ao objeto: Faz-se uma lista de objetos fáceis de serem encontrados no local onde a festa será realizada. Reúne-se os participantes para avisá-los do tempo disponível e o nome do objeto que devem procurar. Ao sinal de um apito todos correm para procurá-lo. Ao sinal de outro apito devem retornar pois é o aviso de que o tempo terminou ou o objeto já foi achado. O primeiro que retornar com o objeto pedido é o vencedor. Se o objeto não for encontrado, pede-se o seguinte da lista.
Cadeia: Escolhe-se um local isolado ou cercado por cadeiras, para ser a cadeia. Nomeia-se (ou sorteia-se) um delegado e seus ajudantes. O preso vai até a cadeia e, paga uma prenda (mostra uma habilidade), para ser solto, que pode ser: cantar, recitar, dançar, fazer uma imitação, etc. Se houver um palco com microfone, a cadeia pode ser colocada num canto dele. E a prenda, ao ser paga diante do microfone, será vista por todos da festa.
Corrida do milho: Traçam-se duas linhas paralelas e distantes. Atrás de uma das linhas, coloca-se uma bacia com grãos de milho. Atrás da outra linha, os participantes são reunidos aos pares - um deles segura uma colher e o outro um copo descartável. Dado o sinal, os participantes com a colher correm até a bacia. Enchem a colher com milho e voltam para a linha de largada. Lá chegando, colocam o milho no copo que seu companheiro segura. Vence a dupla que primeiro encher o copinho com milho.
Corrida do ovo na colher: Marca-se um local de partida e outro de chegada. Cada corredor deve segurar com uma das mãos (ou a boca) uma colher com um ovo cozido em cima. Vence quem chegar primeiro ao local de chegada, sem derrubar o ovo. Se quiser variar, substitua o ovo cozido por batata ou limão.
Corrida do Saci ou Corrida dos sapatos: Traçam-se duas linhas paralelas e distantes. Na primeira linha, os corredores tiram os sapatos, que são levados para trás da outra linha, onde são misturados. Dado o sinal, eles devem sair pulando com o pé esquerdo até a outra linha. Depois de calçar seus sapatos, devem retornar, pulando com o pé direito. Vence quem chegar primeiro ao local de chegada, estando calçado de modo correto.
Corrida do saco: Marca-se um local de partida e outro de chegada. Cada corredor deve colocar as pernas dentro de um saco grande de pano e segurá-lo com ambas as mãos na altura da cintura. Dado o sinal, saem pulando com os dois pés juntos. Vence quem chegar primeiro ao local de chegada. Nota: Para substituir o saco de pano pelo de plástico (grosso) de lixo, que é mais escorregadio, é preciso testar o local da corrida com antecedência.
Corrida dos pés amarrados: Marca-se um local de partida e outro de chegada. Os participantes são reunidos em duplas. Com uma fita, o tornozelo direito de um é amarrado ao tornozelo esquerdo de seu par. Dado o sinal, as duplas participantes devem correr até a chegada. Vence a dupla que chegar primeiro.
Dança da laranja: Formam-se alguns casais para a dança. Uma laranja é colocada entre as testas de cada par. Os casais devem dançar, sem tocar na laranja com as mãos. Se a laranja cair no chão, o casal é desclassificado. A música prossegue até que fique só um casal.
Dança das cadeiras: Forma-se um círculo com tantas cadeiras quantos forem os participantes menos uma. Os assentos ficam voltados para fora. Coloca-se música e todos dançam em volta das cadeiras. Quando a música parar, cada um deve sentar numa cadeira. Um participante vai sobrar e sair da brincadeira. Tira-se uma cadeira e a dança recomeça. Vence quem conseguir sentar-se na última cadeira.
Derruba latas: Sobre uma mesa, coloca-se latas vazias de refrigerante. Faz-se uma linha de arremesso a cerca de 1,5 metros de distância. Cada participante recebe três bolinhas, para fazer três tentativas. O coordenador anota o número de latas derrubadas em cada tentativa. Vence quem derrubar mais latas.
Jogo das argolas: Enche-se com água garrafas de refrigerante (plásticas e grandes) e aperta-se bem as tampas. Arruma-se as garrafas no chão com pelo menos um palmo de distância entre elas. Faz-se uma linha de arremesso a cerca de 1,5 metros de distância. Cada participante recebe cinco argolas (ou pulseiras), para fazer cinco tentativas. Vence quem acertar mais argolas nos gargalos das garrafas.
Jogo do bicho ou Rabo do burro: Desenhe um animal de costas ou de lado numa cartolina e prenda numa parede. Cada participante deve receber uma etiqueta autocolante grande (já destacada). De olhos vendados, deve caminhar até o desenho e colar o rabo do animal. Quem colocar o rabo mais próximo do local correto é o vencedor.
Jogo do bigode: Desenhe numa cartolina um rosto masculino e prenda numa parede. Cada participante deve receber, em cada mão, uma etiqueta autocolante de tamanho médio (já destacada). De olhos vendados, deve caminhar até o desenho e colar os dois lados do bigode. Quem colocar o bigode mais próximo do local correto é o vencedor.
Pesca da maçã: Sobre uma mesa, coloca-se uma bacia com água* e maçãs boiando. Cada participante deve colocar as mãos nas costas e inclinar-se sobre a bacia e morder uma maçã. Quem conseguir ganha um brinde. (*De preferência, usar água filtrada)
Correio-elegante: É o serviço de entrega de bilhetes durante a festa. Quando não estiver entregando bilhetes, o entregador passeia pela festa, oferecendo o serviço de correio. A mensagem é escrita num cartão ou papel colorido. Se a festa for grande, o correio pode ficar numa mesa, onde os cartões são escritos por uma pessoa e entregues por outra. Para facilitar, pode-se levar alguns cartões prontos, com quadrinhas amorosas ou engraçadas.


Fontes:
http://www.smartkids.com.br/especiais/festa-junina.html http://catequesecasaforte.blogspot.com/2009/06/santos-juninos.html http://www.suapesquisa.com/musicacultura/comidas_festa_junina.htm http://www.mulherdeclasse.com.br/origem_da_festa_junina.htm

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Atenção professores!

Em "links Interessantes", consta o Reforço Digital, site da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro que oferece atividades dos conteúdos de Língua Portuguesa e Matemática do 2º ao 9º Ano.

SUGESTÕES DE TEXTOS

Olá pessoal!

A turma do 4º ano se interessou muito pelo livro "Contos de morte morrida" de Ernani Ssó. É uma abordagem sobre o tema "morte" de maneira divertida e que atrai a atenção das crianças (e dos adultos). Pesquisando aqui na net, encontrei 3 textos deste livro no blog "tudehistoria.blogspot.com". Divirtam-se...

A Morte e o Ferreiro

Há muito tempo, quando os bichos falavam e o sol tinha fases como a Lua, dois reinos vizinhos entraram em guerra. Foram tantas as batalhas que a Morte quase se cansou de trabalhar. Levava gente da manhã à noite, mesmo aos domingos. Quando tudo terminou, sete anos depois, a gadanha dela tinha perdido o fio e quebrado a ponta.
Então a Morte procurou um ferreiro, numa pequena aldeia, perto do último campo de batalha. Ele era um homem valente, não se assustou ao ver a Morte parada na porta.
-Já chegou a minha hora?
-Não. Preciso dos seus serviços.
A Morte mostrou a gadanha.
-Precisa de uma lâmina nova-o ferreiro disse. -Vai demorar um pouco. Melhor a senhora se sentar.
-Eu nunca sento - a Morte respondeu.
Entregou a gadanha e ficou num canto, confundida com as sombras.
O ferreiro segurou a gadanha, sentiu o peso dela e disse:
-Parece uma gadanha comum.
-É uma gadanha comum, na mão dos outros - a Morte disse.
O ferreiro trabalhou a noite toda. Pela madrugada, a gadanha tinha uma lâmina nova. Chegava a brilhar de tão afiada e pontuda.
A Morte saiu das sombras, pegou a gadanha, examinou-a.
-Ficou muito boa, ferreiro. Quanto lhe devo?
-Nada
-Então, obrigada. Até outro dia.
-Espere aí. Quero um favor em troca.
A Morte esperou.
-Quero que a senhora me avise com antecedência. Para eu me preparar pra minha hora.
-Avisarei - ela disse sem nem virar, e sumiu na rua.
Anos e anos se passaram. O ferreiro nunca mais teve notícia da Morte.
Na verdade até esqueceu dela.
Uma noite, voltando pra casa, viu um brilho branco nas sombras. Eram os dentes da Morte sob o capuz preto. O ferreiro disse:
-Tudo bem? Veio me avisar?
-Não. Vim buscá-lo.
-Mas como?! A senhora prometeu que ia me avisar com antecedência.
-Eu avisei.
-Não recebi aviso nenhum.
-Seus cabelos ficaram brancos?
-Ficaram.
-Seu rosto se encheu de rugas?
-Sim.
-Suas pernas ficaram fracas?
-Ficaram. Estou até usando bengala.
-Suas costas encurvaram?
-Encurvaram.
-Então, ferreiro? Quantos avisos mais você queria?
-Mas velho assim eu posso morrer com oitenta anos, com cem ou cento e vinte. Um aviso desses não me serve.
Quero hora com lugar certos.
-Está bem. Dentro de sete dias, aqui no jardim - a Morte disse e sumiu.
O ferreiro ficou quieto, pensando. Sete dias não era muito. Precisava se apressar.
Mas o ferreiro não se apressou. Nesses sete dias, fez o que sempre fazia, do jeito que sempre fazia. Apenas passou mais tempo com os netos, contando histórias.
Quando o prazo se encerrou, ele estava no jardim, à espera da Morte.
Ele não disse nada. Ela também não disse nada.
Foram andando juntos como velhos amigos.

A morte e os gêmeos

Há muito tempo, quando os bichos falavam e o sol e a Lua nasciam juntos, um casal teve gêmeos. Pedro e Paulo, exatamente à meia-noite. Uma velha adivinha, conhecida da família, disse que Pedro morreria aos vinte anos. Então os pais resolveram confundir a Morte: passaram chamar Pedro de Paulo Pedro e Paulo, Pedro Paulo.
Quando os gêmeos completaram vinte anos, Paulo Pedro se escondeu num armário, desde manhã cedinho. Disse para mulher:
-Se me procurarem, diga que fui viajar.
A Morte foi até a casa dele antes da meia-noite – como sempre, vestida de preto, a caveira escondida pelo capuz e a gadanha na mão direita. Quando a mulher de Paulo Pedro atendeu a porta, a Morte disse:
-Não se assuste. Não é com a senhora. É com seu marido.
-Meu marido está viajando.
-Ele devia estar aqui.
-Mas está viajando.
-Ele não se chama Pedro?
-Não, se chama Paulo.
A morte pensou um pouco e se foi para casa de Pedro Paulo. Havia uma grande festa lá – muita bebida, muita dança. A Morte foi direto falar com o aniversariante.
-Você é o Pedro?
-Sim, sou o Pedro.
-Então venha comigo – a Morte disse.
-O quê?!
-Vamos.
-Quem é você?
A Morte não disse nada. Só olhou para Pedro Paulo. Então ele viu que não era alguém fantasiado para a festa.
-Mas já?!
-Você sabe, pra morrer basta estar vivo.
-Não é justo! Eu mal fiz vinte anos!
-Isso mesmo. Minha missão, hoje, é levar um sujeito que se chama Pedro, com vinte anos.
-Mas eu também me chamo Paulo.
-Como?
-Eu me chamo Pedro Paulo.
-A Morte ficou na dúvida. Resolveu então voltar a casa de Paulo Pedro.
Não encontrou ninguém.
-Estão querendo me fazer de boba - a Morte pensou.
Voltou à festa. Lá estavam os dois irmãos, muito alegres. Pensavam que a Morte tinha desistido.
A Morte olhou para eles. Mesma cara, mesmo cabelos, mesmas roupas.
Ela se aproximou.
-Quem é Pedro?
-Eu – os dois disseram – Pedro Paulo e Paulo Pedro.
A Morte não costumava se enganar. Nem pensava no assunto. Simplesmente sabia quem tinha que levar. Mas agora estava confusa.
Pedro Paulo se animou:
-Você não sabe qual de nós tem de levar. É melhor não levar ninguém, para não cometer uma injustiça.
-Vou levar os dois – a Morte disse calmamente. –Assim terei a certeza de que não deixei o irmão certo.
-Mas como?! E o errado?!
-Acidente de trabalho.
-Você não pode fazer isso.
-Posso, sim. Vocês nasceram juntos, morrem juntos.
-Não nascemos juntos.
-Não?
-Eu sou dois minutos mais velho que ele – Paulo Pedro disse orgulhoso.
-Então é você o Pedro que eu quero – a Morte disse.
-Como?!
-Ouça.
O relógio da igreja bateu meia-noite.
-Está na hora e seu irmão ainda tem dezenove anos.
E o tocou com a gadanha antes que ele tivesse tempo de se arrepender de ter falado.

Moral da história: "Quem fala demais da bom dia a cavalo."


A Morte e o escritor

Há muito tempo, faz duas horas, quando os bichos falavam, um escritor começou um livro difícil. Primeiro, porque era sobre um assunto de que ele não sabia patavina. Depois porque, ao se sentar em frente da escrivaninha, viu a sombra de alguém encapuzado, segurando uma gadanha, se estender sobre o monitor do micro e a parede.
- Continue - uma voz disse atrás dele. - Você ainda tem um tempinho.
Mesmo tremendo, o escritor começou a primeira história. Escreveu uns quatro, cinco parágrafos, daí parou.
- Não vai continuar?
- Só amanhã.
- Mas preciso levar você.
- Então não vai saber o final da história.
Depois de um silêncio, a voz continuou:
- Vamos fazer um trato. Eu levo você só depois que terminar a história.
- Mas eu queria escrever várias.
- Todas a meu respeito?
- Todas.
- Vou pensar. Se eu ficar curiosa, quero ver as outras.
- Posso pedir um favor? Não sei escrever com alguém lendo por cima do meu ombro.
- Você está querendo demais.
Então o escritor teve de trabalhar com a Morte lendo por cima do ombro dele. Nunca teve coragem de se virar para olhar para ela. No máximo espiava a sombra na parede.
Ele não pediu nenhuma dica para os enredos, mesmo estando louco de vontade. Ela nunca reclamou das palavras que ele botou em sua boca, nem das cenas que a fez, digamos, viver. Daí que ele não tem a menor ideia do que ela achou do livro.
No último dia, ao começar a escrever a apresentação, ele puxou conversa:
- Suas histórias não são muitas.
- Não?
- Pelo menos eu não encontrei. Histórias de verdade, com começo, meio e fim, são muito poucas. O resto são episódios soltos.
- É. Mas tem uma coisa. Que você arrume começo, meio e fim para episódios soltos, eu entendo. Mas porque alterou histórias inteiras, algumas famosas, escritas por grandes escritores?
- Não é ótimo? Agora temos duas histórias, em vez de uma.
- Mas essa liberdade, se são narrativas do folclore...
- É aquele negócio, quem conta aumenta um ponto, ou diminui. sempre foi assim. Os escritores pegam as versões orais e as modificam, conforme suas intenções, seu talento ou falta dele. Aí elas caem de novo na boca do povo. Mas, de um livro pra outro, às vezes ficam irreconhecíveis.
- Mas tem uma história que, apesar do capuz e da gadanha medievais, não me lembro de ter visto antes.
- Nem vai lembrar.
- Quer dizer...
- Inventei todinha. Por favor, não diga pra ninguém. Quem descobrir qual história é bom descobridor será.
A Morte respondeu a pergunta:
- Como descobriu que eu nunca me sento?
- Não descobri. Adivinhei.
- Bem - a morte disse depois de um silêncio -, terminando a apresentação, podemos ir.
- Queria dizer mais uma coisa. Não sei se você notou, mas, ao contrário de muitos outros contadores de história, não pintei você como malvada, feito vilã de novela de televisão, nem botei você dando gargalhadas estrondosas como cientistas malucos. Achei que você ficava melhor na foto de um modo mais neutro, mais profissional, digamos. Com uma certa dignidade. Dignidade, não solenidade, que pra solenidade não estou nem aí.
A Morte não disse nada. A sombra dela, na parede, estava imóvel, perfeitamente imóvel. Então o escritor se virou e a encarou:
- Está na hora?
- Está.
- Imagino que você não vai me dizer pra onde vamos nem o que há por lá.
- Não adiantaria de nada, meu caro. Ninguém está preparado pra isso.
- Só mais uma coisa. Meu epitáfio. Não quero nada choroso, nem metido a poético. Quero aquele velho epitáfio da piada.
- Qual?
- "Aqui jaz Ernani Ssó, contra a vontade".